Green Day, formado por Billie Joe (vocal/guitarra), Tré Cool (bateria), e Mike Dirnt (baixo) fez sua estreia no Festival The Town, acompanhado de uma pequena turnê solo, com Rio de Janeiro na rota – que infelizmente foi cancelado devido ao jogo entre Botafogo e Vasco – e Curitiba que arrastou milhões de fãs para a cidade. Após um show emblemático no Rock in Rio em 2022, Green Day desembarcava no Brasil novamente, após 8 anos de espera, com a turnê solo – ou melhor, um único show solo – do disco “Saviors”, lançado em 2024, sendo a última turnê solo da banda no Brasil, a Revolution Radio Tour, em 2017.
A We In The Crowd marcou presença no The Town e no show solo da banda em Curitiba, e trouxe alguns detalhes para vocês, vem com a gente!
PUNK ROCK ESTÁ VIVO EM CURITIBA!
Com um grupo de fãs ansiosos pelo retorno da banda à cidade, a fila para o show começou a tomar formato às 2h da manhã do dia 12 de setembro. Não houve acampamento no show – apenas fãs extremamente dedicados a pegarem grade. Com um clima de amizade tranquilo, os Portões B e G da Ligga Arena começaram a ficar lotados, diversas pessoas com suas gravatas vermelhas e suas roupas pretas enfrentaram o frio e o calor para pegar um bom lugar na pista.
Houve um pequeno atraso na abertura, mas o que atrapalhou o sonho da grade para muitas pessoas foi a vistoria do local, onde, para o público feminino do Portão B, tinha apenas 2 mulheres encarregadas para vistoria. Isso deixou diversas mulheres aguardando para a entrada, enquanto os homens já marcaram seu local dentro da arena. A organização tentou o máximo minimizar o problema, contudo, não houve sucesso.
Após a entrada na Arena, os fãs foram surpreendidos por uma grande estrutura – bem ao porte do Green Day, né? O ato de abertura, “Bad Nevers” formado por Bobby Nerves (voz), William Phillipson (guitarra), George Berry (guitarra), Jonathan Poulton (baixo) e Samuel Thompson (bateria), foram os responsáveis por aquecer o público – e conseguiram. O vocalista, muito carinhoso, arriscou diversas palavras e vocabulários em português e explicou “minha namorada é brasileira!”. A banda, que manteve um show linear, apresentou um espetáculo de 45 minutos e canções como “Baby Drummer”, “Don’t Stop”, “Radio Punk”, entre outras, e surpreendeu pela qualidade do show – o soar de “banda de garagem” remeteu as origens do Green Day e impressionou o público pela energia.

Às 20h50, “Bohemian Rhapsody” da banda Queen aquecia o público, seguido do coelho “Drunk Bunny” que preparou-os para receber a atração principal, carregando uma camiseta do merch oficial da banda. A banda, que cumpriu seu horário sem atrasos, entrou às 21h e enlouqueceu o público, abrindo o show com “American Idiot” causando um impacto gigantesco devido a estrutura do show que contava com uma mão segurando uma granada – característica da capa do disco – que se inflou pouco antes dos membros subirem ao palco. Agora o representante do Brasil tem a palavra, seguindo com “Holiday”, Billie Joe cumprimentou o público e pediu para fazerem mais barulho. “Know Your Enemy” trouxe uma explosão chocante – um moshpit se formou no fundo da arena, acompanhado, é claro, de um sinalizador verde – o público parecia dizer “Green Day está em casa”. Para completar, uma fã foi chamada ao palco para cantar juntamente com o vocalista, e levou o carisma brasileiro com ela.

Para acalmar os corações — e arrancar lágrimas do público — “Boulevard of Broken Dreams” entrou de forma majestosa no setlist, carregada de emoção e coro coletivo. Em seguida, a revanche veio com força: uma das favoritas do novo álbum, “One Eye Bastard” resgatou o espírito do punk rock, incendiando novamente a plateia com seus solos marcantes. E, para a surpresa de muitos, “Revolution Radio” também apareceu no repertório, arrancando gritos e levando os fãs ao delírio.
Mas a surpresa maior veio com “Church on Sunday” do disco “Warning” que já não era tocada pela banda por um bom tempo, e pegou os Old School Fans de surpresa. Com uma sequência de tirar o fôlego, “Longview”, “Welcome to Paradise”, “Hitchin’ a Ride”, “Brain Stew” e “St. Jimmy” elevaram o show para outro patamar. Com uma pirotecnia impressionante – e não exagerada – os confetes e os fogos destacaram as performances, mas Billie Joe chamou atenção pela procura incessante por uma bandeira brasileira, enquanto Mike lançava palhetas sem economia, para a alegria dos fãs na grade. O Green Day manteve uma performance de alto nível e soube brilhar também nos detalhes: cada integrante teve seu momento de destaque no show, sem que houvesse qualquer sinal de protagonismo exagerado ou favoritismo.

Bem vindo aos meus problemas! “Dilemma” acompanhado de “21 Guns” – foram as canções responsáveis por suavizar o ritmo da noite, oferecendo um raro momento de respiro — mesmo mantendo a energia em alta.
“Oh Deus, eu amo o Brasil!” em “Minority”, Billie Joe desfilou carisma e sorrisos com uma bandeira do Brasil e disparou: “Esse é o melhor show que o Green Day já fez no Brasil”. O artista também introduziu os membros secundários da banda, Kevin Preston (guitarrista de apoio), Jason Freese (teclados, saxofone, guitarra, percussão e outros instrumentos variados) e o considerado 4º membro, Jason White (guitarrista ao vivo), além é claro, de Tré Cool e Mike que se exibiram com solos magníficos.

Dookie em peso! “Basket Case” e “When I Come Around” fizeram a Arena tremer a cada verso, enquanto um balão inflável de “Bad Year” sobrevoava a plateia. Algumas setlist entregues aos fãs contavam com “She”, contudo, a música não foi tocada ao vivo e a sequência se deu por “Letterbomb” em meio ao caos sonoro, um breve discurso de Billie Joe trouxe êxtase e reflexão — e chamou atenção por isso mesmo.
“Precisamos cantar juntos, precisamos dançar juntos, e precisamos prestar atenção uns aos outros. As notícias são tão ruins… Eu não aguento mais. América está queimando agora mesmo, temos armas de grande destruição, temos o que parece ser uma guerra civil que irá acontecer, mas não vai acontecer comigo! Hoje não é sobre uma festa política, hoje é sobre amigos e família, e estranhos, pessoas que você não conhece, mas que irá conhecer pela primeira vez, hoje é sobre a memória que você terá pelo resto de sua vida. Porque vamos todos morrer, e a música irá ficar porra.”

Lágrimas por todos os lados, “Wake Me Up When September Ends” marcou um ponto importante do show – a canção que aborda sobre o falecimento do pai de Billie Joe foi recebida com um coro impressionante e uma homenagem dos fãs, que levantaram luzes verdes por toda a Arena, uma demonstração de carinho e respeito. A canção finalizou com uma cachoeira de fogos e um solo marcante, além da clara emoção no rosto de Billie Joe. Dando continuidade, “Jesus Of Suburbia” apesar de ser uma canção longa, foi cantada em plenos pulmões pelos fãs, e ao final teve um coro de dar arrepios à pedido do vocalista que assistiu com empolgação o esforço do público – que em certos momentos, deixou o show ensurdecedor.
Billie Joe, o primeiro bissexual do mundo! “Bobby Sox” surpreendeu com uma chuva de confetes verdes e uma performance impecável. Com solos bem arranjados e uma entrega afinada, o Green Day mais uma vez exibiu sua harmonia em cena. Para encerrar, Tré Cool destruiu parte da bateria em seu tradicional ato caótico, enquanto Billie Joe retornou ao palco como uma sombra solitária para tocar “Good Riddance (Time of Your Life)”. A despedida veio com mais uma chuva de confetes — desta vez personalizados com a data do show e o símbolo do álbum Saviors, encerrando a noite com emoção e estilo.

A setlist do Green Day em Curitiba, embora energética e recheada de clássicos, pecou por certos desequilíbrios. Mesmo sendo uma banda com um catálogo extenso de hits, foi inevitável notar a ausência de faixas que poderiam ter aprofundado a experiência. Canções da trilogia “¡Uno!”, “¡Dos!” e “¡Tré!” simplesmente desapareceram do repertório, assim como qualquer referência ao subestimado — porém formativo — “Kerplunk!”.
Apesar de se tratar de um show solo (fora de festivais), o Green Day pareceu optar por uma abordagem segura, com uma sequência de músicas que flertou com o formato de setlist de festival: direta, certeira e centrada nos maiores sucessos. A banda até tentou variar a ordem das faixas em relação a outras datas da turnê, numa tentativa clara de agradar os fãs mais antigos, mas o esforço soou limitado. Poucas surpresas foram incluídas, e o sentimento geral foi de que alguns álbuns e fases importantes da carreira da banda foram deixados de lado.
Mas é importante destacar que, apesar dos anos, a qualidade dos shows do Green Day não diminuiu — pelo contrário. É surpreendente ver como o trio ainda entrega uma performance de alto nível, com energia de sobra, domínio de palco e uma produção precisa, com pirotecnia usada nos momentos certos. Billie Joe Armstrong impressiona pela voz bem preservada, enquanto Tré Cool e Mike Dirnt seguem demonstrando o mesmo vigor e habilidade que os consagraram décadas atrás. A banda mantém um alto patamar e se destaca no cenário musical mesmo após décadas de estrada, sempre surpreendendo pela excelência dos espetáculos e pelo carisma em cena — especialmente com o público brasileiro.
Texto por Amanda Batista