Entrevista

Entrevista: The Aces fala sobre o novo álbum, “I’ve Loved You For So Long” e relembram início da carreira

The Aces, banda de indie pop americana dona do hit Daydream, tem lançamento marcado de seu terceiro álbum I’ve Loved You For So Long‘ para o dia 02 de junho. A música que intitula o álbum acabou de ser lançada nessa sexta-feira (28).

Cristal Ramirez, Alisa Ramirez, Katie Henderson e McKenna Petty foram criadas em uma pequena cidade de Utah, nos Estados Unidos e estiveram sempre muito presentes na religião, por ser uma cidade muito conservadora. Antes de decidirem o nome atual elas se chamaram The Blue Aces, quando performavam músicas cristãs. As coisas foram mudando e atualmente a maior parte do grupo faz parte da comunidade queer. A família das meninas sempre as apoiou mesmo com toda a questão religiosa.

Foto: Julian Burgueño / Divulgação

Em 2018 o primeiro álbum foi lançado, ‘When My Heart Feel Volcanic’, que rendeu uma apresentação ao vivo no programa de TV no Late Night Show de Seth Meyers, além de abrir a turnês das bandas COIN e 5 Seconds of Summer.

Under My Influence

O segundo disco da banda foi lançado dia 17 de julho de 2020, após ter sido postergado por conta do Black Lives Matter. Por ter diversos fãs negros, se viu necessário fazer essa mudança para tratar de assuntos mais importantes. O projeto conta com músicas como Daydream, a mais popular, I Can Break Your Heart Too e My Phone Is Trying to Kill Me.

Por conta da pandemia, os fãs se aproximaram muito do quarteto, que criou um grupo no Discord para ter um contato mais direto com aqueles que apoiam tanto sua carreira.

A palavra influência não é somente vista no nome do álbum, mas também na ação delas mesmas que utilizam muito da sua voz para tratar de assuntos importantes e apoiam diversos movimentos, os repassando para seus fãs.

I’ve Loved You For So Long

O mais novo projeto foi inspirado nas reflexões que o grupo teve durante a pandemia sobre a experiência de crescerem como pessoas LGBTQIA+ em uma comunidade muito religiosa em Utah. Os singles já lançados do álbum mostram músicas animadas – e até dançantes – com assuntos delicados. Cristal conta sobre suas crises que a mesma passou durante a pandemia:

“Eu estava no pior momento mental da minha vida quando escrevemos ‘Always Get This Way’. Tentava lidar com crises de ansiedade e pânico quase todas as noites e entreguei tudo de mim no estúdio. É uma música sobre vergonha, pânico e dificuldades e sobre termos que lutar na sociedade para uma melhor saúde mental. É uma das músicas mais vulneráveis que já escrevi.”

Girls Makes Me Wanna Die‘ traz com força a sexualidade delas, um pouco apagada no começo da carreira pelo medo da aceitação na indústria. ‘Solo’ fala sobre buscar culpados por um relacionamento que não deu certo.

O clipe oficial de I’ve Loved You For So Long, foi dirigido por Alisa Ramirez, baterista.

Com um total de 11 faixas, o terceiro álbum de estúdio logo estará disponível e o We In The Crowd teve a oportunidade de entrevistar a banda que vem ganhando cada vez mais relevância no indie pop. Você pode conferir a entrevista completa abaixo:

WITC: A primeira coisa que nós perguntamos para músicos é: Qual foi o melhor show que vocês já foram?

Katie: Eu amo essa pergunta!
McKenna: Hmmm… Eu acho que foi naquele show que nós assistimos os Arctic Monkeys, em um festival…
Alisa: No festival Firefly!
McKenna: No festival Firefly, isso, foi uma experiência que mudou as nossas vidas!
Katie: Foi um show incrível!

WITC: O que fez o show ser tão especial?

McKenna: Eu acho que eles são simplesmente músicos incríveis e foi a minha primeira vez ouvindo ao vivo as músicas que que eu cresci ouvindo, o que eu acho que é sempre muito especial. Mas, também, eles lançaram um álbum simplesmente incrível e foi muito legal. 

WITC: Nós percebemos que vocês tem usado muitos ternos ultimamente, existem tantas maneiras diferentes de explorar a arte e a criatividade e nós achamos isso incrível. Mas nós queremos saber: por que?

Alisa: Nós decidimos escolher os ternos porque, nós estávamos tentando pensar em como nós nos inspiramos nas bandas dos anos 60s como os Beatles, The Rolling Stones, The Kings e outras nesse estilo… Um dia eu estava olhando uma foto, em casa em Salt Lake City, e eu estava olhando todas essas fotos incríveis e (percebi) como naquela época eles costumavam vestir esses ternos, sabe? E eu pensei: Esses caras eram realmente inovadores e mudaram a música, inventando o Rock N’ Roll, fazendo coisas realmente novas.

“E me perguntei, qual seria a versão disso hoje? Como que nós (The Aces) nos encaixamos nisso? A versão dos anos 2020 disso seria: mulheres, mulheres não-brancas, mulheres queers, meio que reinventando a música indie e o rock agora. E eu fiquei muito inspirada por essa ideia. Então, eu e as meninas estávamos em busca desses ternos e nos sentimos especiais por diversas razões. Por essa e pelo fato de termos crescido em uma cidade em que não erámos totalmente livres ou encorajadas a nos vestir como nós queríamos.” conta Ramirez.

“Nós não nos sentíamos confortáveis para nos expressar como realmente erámos. Tipo, crescemos como garotas tomboys, então é muito importante poder sermos bem andrógenas nesse álbum, que é mais natural para nós. Viemos de um lugar onde nós tivemos que usar vários vestidos quando erámos crianças e tínhamos que nos apresentar de uma maneira bem feminina em várias situações. Então, nos sentimos na posição de ressignificar o que o terno é, e agora nos vestimos da maneira que nós queremos, como mulheres queer, reinventando a cena alternativa. Por isso decidimos usar os ternos.”

WITC: Eu amei isso! Amei todas as razões por trás dessa escolha. Então, quando nós descobrimos que faríamos essa entrevista com vocês, entramos em contato com uma amiga chamada Alana. Ela é uma grande fã do trabalho de vocês e gostaria que perguntássemos se para esse álbum novo vocês estavam inspiradas pela década de 80, ou se foi por um som diferente… De onde a inspiração veio dessa vez?

Alisa: Sim! Quer dizer, os anos 80 sempre vão ser uma grande inspiração para nós porque essa foi a música da geração dos nossos pais, sabe? Uma parte das primeiras músicas que nós ouvimos quando erámos crianças foi dessa época. Porque os seus pais querem te mostrar as músicas da vida deles, certo? Essas foram as músicas que eram populares quando eles tinham 20 e poucos anos, então todas nós ouvimos muito de Whitney Houston, Michael Jackson, Bee Gees, ‘Earth, Wind and Fire’, Beatles, The Cure, The Passengers, The Smiths, a era New Wave e música disco, tudo ao mesmo tempo.

Isso sempre vai ser uma parte profunda do dna da The Aces, vem quase como uma influência inata já que crescemos com esse tipo de música. E definitivamente nos preparando para esse álbum eu acho que estávamos principalmente influenciadas pela estética da era new wave, de bandas como The Cure, The Smiths e The Passengers e coisas assim… Do final da década de 80 e começo da de 90. Essas são definitivamente uma era que eu sinto que influenciou muito os sons desse novo álbum.

WITC: O novo álbum é todo sobre se reconectar. O que sobre a pandemia e o isolamento fez vocês pensarem em quem vocês eram? Porque, como vocês disseram, vocês estão completamente diferentes de quem vocês costumavam ser quando começaram a banda… Como ficar em casa fez vocês pensarem em quem vocês costumavam ser? 

McKenna: Eu acho que é super fácil para músicos ficarem repensando o tempo todo. Acho que todo mundo meio que faz isso com os seus trabalhos ou o que quer que seja que eles tem acontecendo na vida deles. Meio que ignoramos coisas que estão borbulhando na superfície e que é preciso admitir ou trabalhar nisso..

Mas eu acho que a pandemia, pelo menos pra mim, foi simplesmente um ótimo momento para pensar e realmente explorar várias coisas que estavam acontecendo há anos. Foi um bom momento para isso, sabe? Eu estava fazendo terapia pela primeira vez e sei que todas estávamos superando várias coisas. Pensando em como nós fomos criadas, na religião e na cultura com as quais crescemos. É uma das grandes razões pelas quais o álbum terminou sendo do jeito que é. Pudemos ir para lugares que nós nunca tínhamos ido antes e realmente explorar coisas e falar sobre experiências que todas nós, coletivamente, passamos juntas.

Alisa: Sim! Não tinha nenhuma distração, sabe? Eu acho que nós fomos forçadas a meio que sentar nas nossas casas por tanto tempo e você só consegue se distrair e ignorar as suas merdas por um tempo. Então acho que várias pessoas estavam nessa mesma situação tipo “Uau, ok, estou só eu aqui sozinha e tem um monte de coisa surgindo que eu pude evitar por um bom tempo”, e isso realmente aconteceu com a gente. Nós pegamos aquela energia e levamos para o estúdio. Foi meio que a única coisa a se fazer porque não tínhamos mais nada acontecendo nas nossas vidas. Estávamos apenas em casa todos os dias, sem nenhuma distração como um novo romance ou um término. Não tínhamos mais nada raso para conversar e tudo foi ficando cada vez mais profundo.

WITC: Já que estamos falando do álbum, e eu não sei se estou forçando a barra ou não, mas, será que vocês podem compartilhar qual é o trecho favorito de uma música nova? Uma música favorita, talvez?

Katie: Um pequeno easter egg!
McKenna: Podemos contar?
Katie: Vamos fazer um trecho de uma música que não saiu ainda… isso é legal!
Alisa: Isso é demais! Eu definitivamente tenho vários trechos que eu realmente gosto desse álbum. Eu acho que uma das frases favoritas é um pouco engraçada que diz: “Eu finalmente consegui o que eu queria”, mas a próxima parte é meio cômica “porque eu estou miserável pra caralho”*

*“I finally got what I want / cause I’m so fucking miserable”

WITC: Nós vimos que vocês são engajadas em diferentes causas e sabemos que é inevitável para artistas influenciarem a vida de vários jovens. Vocês conseguem ver os seus ideais sendo passados para os fãs? Acham que eles apoiam as mesmas causas que vocês apoiam e estão entendendo as mensagens sobre quem vocês são e do que vocês falam nas músicas? 

McKenna: 100%! Eu acho que de tudo, nossos fãs nos inspiram a sermos apaixonadas pelas coisas pelas quais somos apaixonadas. Eles são muito carinhosos e conectados, nós aprendemos muito com eles, em vários sentidos.

Alisa: Nós somos muito sortudas de termos fãs que são incríveis e progressistas, cheio de pessoas inclusivas e que pensam parecido, que só querem se divertir e apoiar as coisas certas, sabe? Eu me sinto muito sortuda de ter fãs que realmente se importam com o que está acontecendo no mundo, e não estão apenas prestando atenção em qualquer coisa que esteja simplesmente popular no momento, você entende o que eu estou falando?

Nós temos fãs que se importam com situações reais e assistem os seus artistas favoritos serem responsáveis. Eu acho que isso é ótimo, porque, eu acho que se nós formos responsáveis o mundo estará caminhando para uma direção melhor. 

WITC: Já que estamos falando sobre eles, vocês tem vários fãs no Brasil e todo mundo quer saber se vocês vão vir pra cá e, quem sabe, tocar em algum festival? Há alguma coisa planejada? Nós amaríamos receber vocês! Eu amaria estar na plateia! Vocês vem?

Katie: Queremos tanto ir!!!!
Alisa: Nós estamos falando com a nossa equipe com muita frequência, então nós realmente queremos ver todos vocês e fazer um show animal pra vocês! 
Katie: Vai acontecer! Nós queremos mais do que vocês, prometo. 
McKenna: Nós somos tão gratas pelo apoio e eu definitivamente sinto isso desde o começo. 

WITC: Então, antes da gente encerrar por aqui, podem deixar uma mensagem para os seus fãs brasileiros?

McKenna: Nós amamos muito vocês. Vocês foram os nossos primeiros apoiadores. Vocês foram o primeiro fã clube que nós tivemos quando nós lançamos o EP e nós iremos ver vocês o mais rápido possível!

Ouça as novas músicas de The Aces:

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