Após expor suas dores ao mundo, deixando a armadura para trás em Petals For Amor, e realizar um auto retrato de uma mulher que já foi podada diversas vezes, porém como uma flor, permitiu-se renascer em Flowers For Vases/descansos, Hayley Williams retorna mais amarga e amadurecida em Ego Death At A Bachelorette Party.
Produzido por Daniel James, o disco soa mais agressivo, com críticas incisivas e uma liricidade inovadora que vai desde o luto à autoaceitação e amadurecimento. Williams expõe sua vida pessoal como um livro aberto, mostrando vulnerabilidade mais uma vez.
Com 20 canções, essa nova era foi lançada de forma livre — assim como quem as criou, esse novo ciclo de Hayley se baseia exatamente nisso: liberdade criativa após anos presa em um contrato que parecia não ter fim.
ICE ON MY OJ
Com uma liricidade ácida, entre gritos e risadas, Hayley aborda seu papel de “vilã” nas histórias envolvendo os ex-membros da banda e os conflitos com a gravadora Atlantic Records. “Deixei a porra de uns otários burros ricos, talvez eu volte para o Mississippi, cuidado para eu não te levar comigo”. Nesta canção, Hayley ironiza a experiência de encher os bolsos dos chefões das gravadoras, apenas para depois ser descartada e enviada de volta à sua cidade natal — tratada como um produto criado apenas para gerar lucro, e frisa novamente para a os ouvintes “Estou em uma banda!” – para não deixar dúvidas quanto ao futuro do Paramore.

A canção também é uma continuação de Jumping Inside, do álbum Mammoth City Messengers — onde Williams atuou como vocalista principal em uma das quatro faixas da banda (que também lançou uma série de histórias em quadrinhos).
GLUM
Em entrevista à ALT CTRL, Hayley destacou que não tem muitos amigos na indústria musical e que a música expressa justamente esse desejo de pertencimento. O violão intimista, aliado à liricidade intensa dos backing vocals e à voz de Williams, conduz o ouvinte por uma verdadeira montanha-russa emocional. A música traduz, de forma poética, um sentimento universal: o questionamento — “eu pertenço a este lugar?” — e a solidão de simplesmente existir, observando o próprio envelhecimento. A vocalista aborda essas emoções com sinceridade, criando uma conexão profunda e intimista entre artista e fã. “Você já se sentiu tão sozinho, que poderia implodir e ninguém saberia?”.
KILL ME
“Kill Me” soa como um desabafo melancólico de uma filha que se cansou de carregar os ciclos inacabados de sua mãe e de sua avó, sem jamais receber reconhecimento. A canção narra uma pessoa que é sensível à dor da mãe, que teme seguir os mesmos passos, enfrentando os mesmos infortúnios e que, conscientemente, carrega esse sofrimento. Em entrevista à revista Pitchfork em 2020, a vocalista desabafou:
“Acho que grande parte da minha raiva nasce de um trauma geracional… Venho de uma longa linhagem de mulheres sobreviventes”.
Nesta canção, ela se permite ceder e encerrar uma linhagem de dramas, demonstrando maturidade diante do que está por vir. Com mais controle sobre suas emoções, ela afirma: “ache outro soldado”, revelando que já não se sente na obrigação de lutar em guerras que não lhe pertencem mais.
WHIM
A faixa soa como uma carta escrita pela própria Hayley para si mesma — um pedido íntimo de “confie em você”. Ao longo da canção, a artista aborda de forma sensível temas recorrentes em sua obra, como a auto sabotagem e a importância de ouvir os próprios instintos, respeitando também os sinais que o corpo envia.
“Eu quero o cuidado que só eu posso me dar. É sobre limites e confiar em minha intuição e dizer “não” mesmo quando a cenoura balança diante de mim, cada vez mais brilhante.” – desabafa no texto just one more.

Esse sentimento ecoa em outras composições do seu repertório, como em “Why We Ever”, que compartilha a mesma inquietação: o desejo profundo de ser amada, mas a tendência de se sabotar no caminho. Como resposta a essa vulnerabilidade, Hayley canta: “Eu quero estar apaixonada, acreditar em nós, sem sabotagem” — um verso que sintetiza tanto a esperança quanto a luta interna para superar os próprios medos, permitindo ser amada por completo e cuidar de si, respeitando seus limites.
MIRTAZAPINE
“No início desse ano, escrevi um riff bobo que começou como uma piada, sobre uma canção de amor para o meu antidepressivo. Ele foi indicado para um Grammy na semana passada” brincou no texto Laughter is the best medicine.
O companheiro silencioso de alguns anos “Mirtazapine” ganhou uma canção com guitarras distorcidas e caóticas, que soam como um espelho sonoro da mente em turbulência – uma metáfora crua e bela para sua saúde mental. Com uma base harmônica ancorada no rock, ela canta com honestidade e uma sátira desarmante: “Aqui vem meu gênio numa garrafa de tampa de rosca, para me dar um alívio temporário, eu nunca poderia ficar sem ela, eu tive que escrever uma música sobre ela”.
DISAPPEARING MAN
Hayley Williams aborda de forma intensa e vulnerável seu relacionamento com o guitarrista do Paramore, Taylor York. A canção faz referência ao período onde ambos não poderiam ter um relacionamento devido ao envolvimento do Paramore, onde Williams reforçou por muitos anos que Taylor York seria apenas um amigo — “Você poderia ter qualquer um, exceto eu, eu suponho”. Alguns meses após o divórcio de Hayley com Chad Gilbert (guitarrista do New Found Glory), os dois iniciaram um relacionamento mantido longe dos holofotes para preservar a vida privada. Ainda assim, canções como “Crystal Clear” e “Taken”, do álbum Petals for Armor, deixaram pistas evidentes para o público.
Ao contrário do esperado pelos fãs, a canção retrata o fim de um relacionamento em que Hayley foi deixada de lado. “Como eu disse, tive que voltar para respirar, porque prefiro isso a segurar a respiração por muito tempo. Agora, amor, você não é o único que está sozinho. Meu último ato de amor foi me render”. O uso de metáforas com elementos aquáticos para representar relações, sejam saudáveis ou não, é uma marca da artista. Desde “Pool” até “Crystal Clear”, Williams recorre a essa imagem como reflexo de sua visão sobre o amor: um mergulho profundo no desconhecido.
LOVE ME DIFFERENT
“O prazer e a agonia são todos meus”. Com teclados vibrantes e uma melodia otimista, a canção apresenta uma narrativa suave que percorre a transição de amizade para romance e, por fim, para o término. Em versos como “o clichê de amigos virando namorados virou realidade” e “agora eu me pergunto: qual é o meu valor pra você?”, Hayley revela vulnerabilidade e um profundo senso de questionamento. O refrão contrapõe a afirmação do ex-parceiro — de que ninguém a amaria como ele — com a ideia de que sim, é possível ser amada de uma forma diferente. A reviravolta chega com o verso “acho que sou eu quem tem que me amar de um jeito diferente”, marcando o momento em que a narrativa deixa de girar em torno do outro e se volta para o autocuidado. A mensagem é clara: o amor-próprio é o primeiro passo para a reconstrução.
BROTHERLY HATE
Os conflitos internos no Paramore sempre estiveram presentes, e muitas vezes foram transformados em música. Isso, por si só, não é novidade. O que soa novo agora é ouvi-los sob a perspectiva íntima de Williams. Nesta canção, ela parece buscar uma reconciliação com figuras próximas, quase como um apelo emocional disfarçado. “Você diz que ele é seu irmão, que sempre vai estar por perto, que vocês sempre vão ter um ao outro, mas não se você nunca retomar de onde falhou, eu o amo como a um irmão, o amo como se eu fosse idiota, vamos colocar essa merda nos trilhos, filhos da puta, estou de saco cheio de sentir saudade de vocês”.
A artista também traça um elo com o passado, ao fazer referência direta à canção “Ignorance”, onde canta: “Nós escrevemos nossos nomes em sangue.” Em Brotherly Hate, ela retoma essa ideia: “Juramento de sangue, baby, fizemos um voto não falado”.
NEGATIVE SELF TALK
Williams canta com destreza sobre o processo de não se sentir uma veterana na indústria, mostrando novamente um lado vulnerável, alegando que se tornou profissional em sabotar suas próprias composições.
A canção evoca metáforas inspiradas na história de La Loba, do livro Mulheres que Correm com os Lobos, de Clarissa Pinkola Estés, uma obra que Hayley já havia citado como influência em seus projetos solo anteriores. “Logo que eu me divorciei, um amigo me recomendou Women Who Run With Wolves […] Tem folclore e fábulas antigas […] A primeira história é chamada ‘Bluebeard’ e me ajudou muito mesmo. Me ajudou a perceber por que eu ficava em um relacionamento que era tão prejudicial a mim, e quando eu percebi, eu não consegui desviar o olhar. Eu não podia voltar atrás. Eu tive que sair.” declarou. Na narrativa, La Loba – a velha mulher-lobo – recolhe ossos de criaturas esquecidas, especialmente de lobos, e canta sobre eles até que voltem à vida, correndo livres pela natureza. A metáfora simboliza o ato de resgatar, revitalizar ou transformar aquilo que foi perdido, abandonado ou deixado para trás. É sobre reunir os pedaços do passado e lhes dar novo significado através de canções, histórias e outros gestos criativos.

Essa mesma lógica simbólica pode ser associada à história de Vasilisa, a Bela, um conto de fadas russo analisado por Estés. A jornada de Vasilisa representa o despertar da intuição e da autoconfiança feminina, qualidades que também permeiam a narrativa emocional de Hayley nesta canção. “Canto por cima dos nossos corpos, palavras giram como círculos de margarida na minha mente, sou Vasilisa, me guie pela noite, nada mais me passa pela cabeça a não ser ‘por quê?’”.
EGO DEATH AT A BACHELORETTE PARTY
“Eu vou ser a maior estrela desse bar de cantor country racista”. A canção título do álbum, é uma jornada pela sua carreira artística, o sucesso do Paramore e a ascensão da cantora em meio a uma cena machista e misógina -e especialmente, sobre o racismo da cidade de Tennesse, onde a vocalista cresceu.
“O paraíso ri porque todos tentaram nos alertar, me mandaram de volta pra onde vim, com o rabo entre as pernas”. A Atlantic Records manteve o Paramore sob um contrato no qual apenas Hayley era oficialmente contratada, enquanto os demais membros eram considerados “funcionários” — ou membros de apoio contratados — da artista. O acordo exigia a entrega de até oito álbuns (incluindo seus dois álbuns solo) e garantia à gravadora uma porcentagem sobre todas as receitas: vendas, streaming, shows, merchandising, entre outros.
O contrato levou, inicialmente, à saída de Josh Farro e Zac Farro em 2010, na época, ambos afirmaram que o acordo beneficiava Hayley e marginalizava o restante da banda e gerou um conflito público com a Atlantic Records e sua administração. Jeremy Davis deixou o Paramore em 2015, também citando conflitos relacionados à assinatura desse contrato. Hayley, por sua vez, não teria lido as “letras miúdas”, já que o contrato foi assinado em 2003, quando ela tinha cerca de 14 ou 15 anos.
Em seu Substack pessoal, Hayley desabafa: “Deveria ser óbvio, embora eu saiba que já falei o suficiente: estou mais do que pronta para dissolver o contrato. Foi o primeiro acordo 360 da indústria da música e ele agora está completando seu ciclo, se encerrando. Vamos dissolver a companhia e todas as predefinições que vieram com ela. Vamos recomeçar em nossos próprios termos, como adultos. Vai ser algo que a eu de 15 anos – precoce, mas também muito ingênua – ficaria orgulhosa por saber que ajudou a preparar o caminho. Ela acreditou nesse momento, por ela e pelos amigos”.
Como contra-ataque a gravadora, Williams lançou seu novo projeto pelo selo Post Atlantic — ou Pós-Atlantic — com distribuição via Secretly Distribution. Empresa de apoio a gravadoras independentes que possui grandes nomes de destaque como Phoebe Bridgers, Mitski, Mac DeMarco entre outros. “Eu escolhi a Secretly porque um dos fundadores me disse que eles sempre seriam independentes, já que seu cofundador ‘nunca escolheria o dinheiro’, e isso simplesmente fez meu pequeno coração punk rock cantar. Que luxo poder, de certa forma, recomeçar minha carreira dessa maneira, com mais conexão entre minha equipe. E, pela primeira vez, com propriedade”.
HARD
Hard aborda de forma cirúrgica, a experiência de se apaixonar ao ponto de se perder e abrir mão da própria identidade em nome de um amor que a consome. Seu divórcio serve como pano de fundo para essa reflexão dolorosa, mas madura, sobre amor, perda e reconstrução de si mesma.

“Me casei uma vez usando botas de combate
Só ouvia música cheia de testosterona
Tive que matar meu lado feminino só pra conseguir fazer isso
Para chegar até você, tive que passar por isso”.
“No mesmo ano em que ganhamos nosso primeiro Grammy, eu deveria me casar. Em vez disso, descobri que meu parceiro de 9 anos estava me traindo com uma amiga nossa, o tempo todo. É claro. Eu meio que sabia dessa sacanagem. Mas, dessa vez eu podia provar, então eu fiz o que qualquer mulher forte, independente, faria: adiei o casamento por alguns miseráveis meses, junto com meu sofrimento, e então me casei mesmo assim!” – declara sobre seu casamento com Chad Gilbert do New Found Glory, no texto 360 deals via Substack.

O casamento, que teve duração de cerca de 1 ano e meio, foi uma tempestade em meio a vida pessoal de Williams. As declarações sobre o relacionamento tóxico com o guitarrista não foram poucas – assim como os impactos na saúde mental da artista. “Cantar sobre isso foi como pode fazer um buraco em uma sacola de plástico para respirar. Eu tinha muita vergonha por ser ‘a outra mulher’, por ser traída, por ter ficado. […] Acho que mereço mais que isso, sabe? Não sei o que vai ser necessário para me livrar da vergonha, mas talvez isso se torne algo que me ajuda a ter compaixão e evita a negação.” – Disse em entrevista à revista Vulture.
DISCOVERY CHANNEL
A liricidade da canção chama atenção por explorar a natureza carnal humana. Ao mesmo tempo em que aborda a sexualidade, o texto apela para um instinto primitivo, explicitado na citação: “Você e eu, amor, não somos nada além de mamíferos, então vamos fazer como eles fazem no Discovery Channel”.
Esse trecho não é apenas provocativo: o refrão carrega um sample de “The Bad Touch”, canção da banda Bloodhound Gang, lançada em 1999, cuja temática também brinca com alusões sexuais. Já o primeiro verso da música referencia o filme Jumanji (1995), em uma cena em que o personagem de Robin Williams (Alan Parrish) diz à personagem de Bonnie Hunt (Sarah Whittle) uma frase para convencê-la a continuar jogando. No filme, a fala é “vinte e seis anos atrás…”, mas Hayley parafraseia como “vinte e poucos anos atrás”, criando um duplo sentido: além de remeter à cena, também alude à trajetória do Paramore, banda formada em 2003 — ou seja, “vinte e poucos anos” antes do lançamento deste projeto.
TRUE BELIEVER
Com um piano melancólico ao fundo, a brilhante voz de Hayley canta com tristeza sobre a política mundial atual e a religião. Em seu Substack pessoal, Williams dispara: “Nem todas as igrejas… — mas talvez a maior parte das igrejas — ainda são tecnicamente negócios isentos de impostos, com um marketing incrível direcionado exatamente para onde estamos mais vulneráveis”.
A capa do single chama atenção por um detalhe curioso: a cruz na imagem é idêntica à tatuagem que Hayley carrega no corpo. Mas, ao contrário do que se poderia imaginar, ela aparece invertida — não como uma negação, mas como um reflexo de sua própria visão. É assim que Hayley a enxerga quando olha de cima, revelando sua perspectiva íntima sobre fé e espiritualidade. Um gesto sutil, mas carregado de significado, que sugere uma relação pessoal, talvez ambígua, com o sagrado.
“O que é flagrantemente claro para mim é que sinto um profundo desgosto só de pensar em ser percebida como cristã evangélica na Amerikkka de Trump – aliás, ainda estou avaliando o incômodo de continuar as sessões de laser para remover a tatuagem de uma cruz preta e chamativa na minha coxa direita”. – Hayley Williams via Substack. A cantora também realizou uma explicação de cada verso da canção, para melhor interpretação, confira aqui.
ZISSOU
Com vocais delicados e uma batida contida, Zissou dá continuidade as metáforas aquáticas. A água, mais uma vez, assume o protagonismo e faz jus à marca registrada da artista. O título da faixa faz referência ao filme “A Vida Marinha com Steve Zissou”, de Wes Anderson — um clássico conhecido entre os membros do Paramore e uma inspiração direta para o cruzeiro “Parahoy!”.
“Megan chamou de sopa de monstro”, canta Hayley, citando Megan Thee Stallion, que descreveu o oceano desta forma em uma entrevista no Instagram. A partir disso, Hayley brinca com a ideia de que, se o mar é um monstro, elas também são — e por isso não há motivo para medo. Afinal, quem já perdeu tudo, não tem mais o que temer.
Como um aceno carinhoso aos fãs brasileiros, Hayley arrisca cantando em português, homenageando a versão de “Life on Mars?” interpretada por Seu Jorge na trilha sonora do filme. Em diálogo com fãs, a vocalista brincou sobre o português na canção: “Oi Brasil! Eu só queria dizer que eu falei um português horrível nesse novo projeto, e eu tenho que me desculpar com todos vocês, mas eu fiz com amor! Então espero que vocês tenham notado.” diz referente ao verso “Vem cá me dá sua língua”.
DREAM GIRL IN SHIBUYA
Com referências diretas ao filme “Encontros e Desencontros” (Lost in Translation, 2003), dirigido por Sofia Coppola, a canção dialoga com a narrativa vivida por Bob Harris (Bill Murray), um ator americano em crise de meia-idade, e Charlotte (Scarlett Johansson), uma jovem recém-casada e insegura sobre o futuro. O enredo do filme, assim como a música, explora a beleza efêmera de certos encontros.

Hayley mantém uma narrativa linear, espelhando o filme em sua própria vida real. “Eu sei que você me conhece agora como a palma da sua mão, mas eu ainda consigo fazer seu coração falhar?” — questionamentos como esse conduzem a harmonia da faixa. Williams expressa o desejo de recuperar a faísca inicial de um relacionamento, refletindo-se na personagem de Johansson, que também se mostra inquieta em relação ao casamento e busca ser verdadeiramente vista nele.
“Deveria continuar um mistério, bebendo uísque japonês, no bar do lobby” No filme, o personagem de Bill Murray, Bob Harris, é marcado por suas noites bebendo uísque Suntory no bar do hotel. Essas cenas carregam solidão e saudade, capturando a intimidade silenciosa entre dois estranhos em uma cidade estrangeira. “Será que você sente falta de quando estar comigo era novidade?”, esse verso traduz o arrependimento da cantora ao perceber que, ao tentar definir o relacionamento sobre o qual canta, talvez tenha destruído justamente aquilo que o tornava especial.
BLOOD BROS
Essa canção é uma meditação melancólica sobre o amor que continua mesmo quando tudo ao redor já desmoronou. Ela parece falar de um relacionamento que passou por diversas fases, que sobreviveu a mágoas, afastamentos e frustrações, mas que talvez tenha chegado a um ponto de exaustão emocional. A canção começa com uma declaração incondicional de amor — um tipo de amor que resiste e persiste a tudo, mesmo à ruína, ao silêncio e à dor, contudo, acaba deslizando para o desgaste emocional.
Williams, mais uma vez retorna a metáfora da água como uma maneira de escape – o visual utilizado pela canção de dois peixes fora d’água, vulneráveis, perdidos, machucados. “Anzol, linha e chumbada” evocam a ideia de terem sido fisgados — talvez por esse amor, talvez um pelo outro — mas agora estão fora do ambiente em que podem viver. Estão sufocando. No fim, a mensagem é agridoce: amar alguém profundamente pode significar deixá-lo ir para não causar ainda mais dor.
I WON’T QUIT ON YOU
Nesta faixa, Hayley utiliza metáforas espaciais para explorar sentimentos de solidão, fragilidade emocional e compromisso afetivo. Referências como “astronauta solitário” e “presa aqui em Marte” criam um cenário de afastamento — como se o eu lírico estivesse perdido em um planeta distante —, refletindo a sensação de desconexão em um relacionamento. A cantora novamente retorna ao sentimento de querer pertencer a algo, ou a alguém, em versos intimistas como “quando penso em lar, vejo o seu rosto”, Williams demonstra a necessidade de querer ser amada e estar perto de alguém que a ame, procurando uma nova morada, novamente, ecoando o sentimento de pertencimento.
PARACHUTE
“Parachute” é um chute no estômago de quem acompanhou o relacionamento entre Hayley Williams e Taylor York. A canção que narra a trajetória entre os dois, revela como York poderia ter impedido Williams de se casar, e mesmo presente em um momento decisivo, escolheu o silêncio, deixando-a vivenciar um relacionamento lesivo à sua saúde física e mental. “E você estava no meu casamento, eu estava quebrada, você estava bêbado, você podia ter me dito para não fazer aquilo, eu teria fugido, eu teria fugido”. Em entrevista ao The Guardian, York já abordou sobre o consumo de álcool como uma forma de lidar com questões internas. Em 2022, o guitarrista declarou que parou de beber para “explorar algumas partes mais profundas de si mesmo”.
Com uma harmonia agressiva, quase chorosa, Williams desabafa sobre ter sido negligenciada por uma pessoa na qual amava. “Achei que você fosse me segurar, nunca parei de me apaixonar por você, agora eu sei, melhor nunca me permitir sair de casa sem paraquedas”.
A cidade do Rio de Janeiro é citada na música – mas a que custo, não é? A referência abriu margem para inúmeras interpretações, já que a última passagem do Paramore pela cidade foi em 2014, no Circuito Banco do Brasil. Posteriormente, o retorno da banda à cidade só aconteceu quase uma década depois, com a aguardada turnê sul-americana em 2023. Pela narrativa da canção, York chegou a refletir sobre um possível futuro entre os dois — e, talvez por isso, Hayley esperasse dele uma atitude que a impedisse de seguir com o casamento. Algo que nunca veio. “Você me disse que esperou por mim, você disse que venceu, me perguntou em um voo do Rio, se eu pensava em “nós ” […] Me diga qual foi o momento em que você decidiu desistir”.
GOOD OL’ DAYS
Miss Paramour! Quem diria que o Hard Times eram os tempos mais fáceis da vida de Hayley Williams?

Fazendo alusão a era After Laughter de 2017, a artista canta com nostalgia sobre os bons tempos de seu relacionamento com Taylor York. “Quando eu era um segredo, você me manteve, divorciada magra, você se arrepende de mim?”. Citando o relacionamento de Steve Nicks e Lindsey Buckingham, da banda Fleetwood Mac – na qual a vocalista é sempre compara – Williams, brinca “Eu não sou Stevie, eu não vou te azarar, mas minha voz certamente pode te irritar, por isso, me desculpe”. A faixa soa como um pedido direto para que a outra pessoa fique e dê uma segunda chance, mesmo que isso a faça voltar para os tempos difíceis.
SHOWBIZ
A letra remete a The Eras Tour – turnê da Taylor Swift na qual o Paramore foi ato de abertura. “Eu quero dançar nas luzes estroboscópicas, eu quero engasgar com a fumaça e sentir seus olhos em mim”.

“Showbiz“ fecha o disco de maneira melancólica e assertiva, abraçando seu processo de cura e amadurecimento e colocando um ponto final não apenas no relacionamento, mas em tudo aquilo na qual Hayley esteve presa por muito tempo – desde contratos à membros de banda rancorosos – a artista se concede o espaço necessário para recomeçar novamente. “Acho que é assim que o mundo do entretenimento funciona, acho que é o fim”.
Com 4 indicações ao Grammy Awards, Hayley Williams se prepara para uma turnê na América do Norte em 2026 e deixa esperanças por uma turnê na América do Sul. E aí, o qual a sua faixa preferida do álbum?





