Todo dia parece ter algum novo show sendo anunciado no Brasil. Mas, junto com a empolgação, também vem a frustração: cada vez mais artistas internacionais estão cancelando suas apresentações por aqui.
Nos últimos meses, nomes como Alessia Cara, JP Saxe e Anna of the North anunciaram o cancelamento de suas passagens pelo país, levantando a mesma pergunta que muita gente tem feito: será que o problema é mesmo falta de público?



A verdade é que o cenário está bem mais complicado. Os valores cobrados por ingressos estão nas alturas, o que naturalmente afasta parte do público. Além disso, muitos artistas estão sendo colocados em locais muito grandes para o seu nicho de fãs, e isso acaba tornando o show financeiramente inviável.
Também existe a diferença entre artistas que têm fãs muito dedicados, mas não necessariamente um número gigante de ouvintes no geral, e o contrário também acontece. Há artistas com muitos ouvintes, mas com uma fanbase pequena, o que faz com que parte do público não se sinta motivada a pagar preços pouco realistas para um show de alguém que adorariam ver ao vivo, mas de quem não são tão fãs assim.
Outro ponto é o excesso de shows internacionais sendo anunciados ao mesmo tempo. A agenda de 2025 e 2026 já está lotada de grandes turnês passando pelo Brasil, o que divide o público e o dinheiro de quem quer (ou consegue) ir a vários eventos no mesmo período.
Hoje em dia, o público está mais cauteloso: muita gente evita comprar ingresso logo de início quando percebe que o preço está alto, preferindo esperar por promoções, que quase sempre aparecem quando a venda não anda, ou comprar de outras pessoas por valores menores perto da data do show. Isso levanta uma questão importante: será que não é hora de buscar modelos que tornem os shows mais acessíveis desde o começo?
A cantora Alessia Cara, por exemplo, explicou em um longo desabafo publicado no Instagram que os shows da América Latina foram cancelados por causa de problemas com o promotor responsável. Segundo ela, a decisão não partiu dela, e a artista chegou a dizer que estava “absolutamente frustrada, triste e decepcionada” com a situação.
Neste ponto, entra a proposta do Opus Sounds: trazer artistas mais nichados com preços mais acessíveis para o público, algo que a própria produtora contou ao We In The Crowd. Shows como JP Saxe, Sachi e Anna of the North foram anunciados dentro desse formato.
JP, porém, acabou cancelando toda a turnê, incluindo o show em São Paulo, e publicou um vídeo explicando a situação:
Já Anna of the North também cancelou sua apresentação, mas, diferente do JP, quase nenhum detalhe foi divulgado sobre o motivo.
Outra questão é que, hoje, não se sustenta mais uma turnê na América do Sul sem o Brasil. O país costuma ser o ponto de equilíbrio financeiro da rota, com os maiores públicos e a demanda que viabiliza o restante da região. Claro que, atualmente, vemos grandes shows acontecendo em cidades como Buenos Aires, mas a base de fãs brasileira ainda é muito maior — e é ela que geralmente define se uma turnê sul-americana realmente se mantém de pé.
É claro que o assunto é delicado, mas a sensação é de que o público brasileiro continua aqui, firme e forte. O problema pode estar mais em quem planeja do que em quem compra. Talvez esteja na hora de repensar o tamanho das casas, os valores e até o ritmo de anúncios, para não transformar a empolgação dos fãs em mais uma sequência de cancelamentos.





