
Fangirls: de geração em geração
Se tem uma coisa que nunca sai de moda é ser fã. Das filas de shows aos trends no X (Twitter), as fangirls atravessam gerações, fronteiras e transformam não só a cultura pop, como também a sociedade. O que começou com gritos e lágrimas em aeroportos, hoje ganha vida em vídeos, fanarts, fanfics e comunidades espalhadas pelo mundo todo.
O fenômeno não é novo. Nos anos 60, quando os Beatles desembarcaram nos Estados Unidos pela primeira vez , uma multidão enlouquecida tomou conta das ruas. Era a chamada Beatlemania, que ficou conhecida pela famosa “histeria coletiva” das fãs, que gritavam, choravam, desmaiavam e mostravam ao mundo um tipo de amor que, até então, nunca tinha sido visto nessa escala.
Aquele momento ficou marcado na história como o nascimento da cultura fã moderna. Era mais do que música. Era sobre se sentir parte de algo, pertencer a uma comunidade que só quem vive entende. As fãs dos Beatles não só lotavam estádios, como também ditavam tendências e mudavam o comportamento da juventude.
Os Beatles não influenciaram apenas a música: eles também moldaram completamente a estética dos anos 60. No começo da carreira, os terninhos alinhados, gravatas finas e cortes de cabelo com franja arredondada viraram febre entre os jovens. Com o passar dos anos, a banda foi abraçando a estética psicodélica do final da década, com roupas mais coloridas, estampas vibrantes, óculos redondos — tudo isso refletindo o espírito de transformação da época. A influência dos Beatles na moda foi tão forte que ajudou a definir o visual de toda uma geração, deixando marcas que até hoje aparecem em tendências que vão e voltam.
Da Bieber Fever às bandeiras britânicas nas vitrines
Anos depois, com a internet começando a ganhar força, um garoto canadense surgia como o novo fenômeno global. A chamada Bieber Fever tomou conta do mundo, impulsionada por vídeos no YouTube e pelas redes sociais que, naquela época, começavam a aproximar fãs de todos os cantos. Foi aí que a cultura fã ganhou uma nova camada: a globalização.
De repente, garotas do Brasil conversavam com meninas da Indonésia, dos Estados Unidos, da França… Todas unidas por uma coisa em comum: o amor pelo Justin Bieber. Fóruns, grupos no Facebook, Twitter e Tumblr se tornaram verdadeiras comunidades virtuais onde milhares de fãs compartilhavam fotos, vídeos, teorias e principalmente criavam laços que muitas vezes atravessaram fronteiras e o tempo. Pela primeira vez, ser fã significava não estar mais sozinha, não importa onde você estivesse no mundo. Era se sentir em casa, mesmo a quilômetros de distância.
E se Justin mostrou o poder da internet, o One Direction elevou esse impacto a outro patamar. A boyband britânica, formada em 2010, se tornou muito mais do que um sucesso musical: eles eram um verdadeiro fenômeno cultural. O auge do grupo não foi sentido apenas nas rádios ao redor do mundo, mas também nas ruas, nas escolas, nas redes sociais e, claro, na moda.
De 2012 a 2015, a estética britânica dominava absolutamente tudo. As bandeiras do Reino Unido estampavam camisetas, capas de celular, mochilas, tênis, bonés e qualquer item possível. Era praticamente impossível andar por um shopping, uma escola ou até abrir uma revista sem encontrar uma referência à Union Jack. A influência era tão forte que, para muitas garotas da época, usar roupas com estampa da bandeira britânica, calça colorida ou acessórios específicos era quase um uniforme não oficial do fandom.
Mas o impacto ia muito além do visual. As fãs do One Direction, assim como as Beliebers, movimentavam plataformas como Twitter, Tumblr e Wattpad de maneira absurda. Fanfics se tornavam verdadeiros best-sellers (e, muitas vezes, até eram publicados como livros após o sucesso), memes se espalhavam em questão de segundos e mutirões eram organizados diariamente para quebrar recordes de visualizações, vendas e streamings.
Era uma geração inteira vivendo uma experiência coletiva, criando conteúdos, compartilhando emoções e, principalmente, formando uma comunidade onde todas se entendiam, mesmo sem nunca terem se visto pessoalmente.
2020: a década do k-pop
Se alguém ainda duvidava do poder das fangirls, a explosão do K-Pop veio para provar que essa força só cresce. Grupos como BLACKPINK, Stray Kids, SEVENTEEN, TXT e tantos outros mostram que a cultura fã nunca esteve tão viva, organizada e impactante — e que ela está aqui para ficar.
Com um modelo que combina música, performance, conceito visual, conteúdos diários e uma proximidade enorme com o público, os fandoms de K-Pop são verdadeiras potências. As fãs não apenas consomem, elas produzem: organizam projetos, legendam conteúdos, organizam projetos de shows, fazem doações e, claro, movimentam bilhões de dólares na indústria do entretenimento global.
E se lá atrás as garotas precisavam esperar para ver um clipe na MTV, uma revista ou um CD chegar pelo correio para curtir seu artista favorito, hoje as k-poppers dominam a arte de criar, traduzir e compartilhar conteúdo em tempo real. A cultura de fã se tornou um universo próprio, com suas linguagens, códigos, tradições e, principalmente, uma rede de apoio onde ser dedicada nunca foi motivo de vergonha — pelo contrário, é motivo de orgulho.
De geração em geração, as fangirls seguem fazendo história. Elas ditam tendências, movimentam a indústria, transformam a maneira como consumimos música e cultura e, acima de tudo, provam que amar algo com intensidade é, sim, uma das coisas mais poderosas que existem.

