Entrevista,  Matéria

De fangirl a girlboss: a presença feminina nos bastidores da indústria musical

Neste Dia Internacional da Mulher, trazemos a visão de quem está nos bastidores do cenário da indústria musical. É hora de dominarmos a indústria!

A escola Annenberg, da Universidade do Sul da Califórnia, afirma que há apenas 11,7% de mulheres trabalhando em gravadoras, 22,2% em editoras, 7,1% em streaming, 6,7% em música ao vivo e 20% em rádio. Esses números são relativos a diversos cargos sênior e executivos na indústria musical. São números que nos mostram que devemos continuar lutando para conquistar o nosso espaço! 

Em um ambiente tão masculino, os obstáculos se tornam desafios e, assim, a conquista de mulheres em importantes cargos se torna inspiração.

Ao falarmos sobre fangirls, não existem pessoas com um melhor insight sobre a conexão da indústria e artistas. Fãs sabem dizer o que o público espera e o que quer de um artista. 

Quando uma fã grita por um artista em um estádio é histeria. Quando um homem grita por um jogador em um estádio é paixão incondicional. Na verdade, ambos são ídolos. Não há diferença. A verdade é que nosso grito precisa ser cada vez maior, ultrapassando toda a discriminação e machismo.

Nas palavras de Taylor Swift para o CBS Sunday Morning e em seu discurso no Grammy:

“Um homem faz alguma coisa, é estratégico. Uma mulher faz a mesma coisa, é calculado. Um homem pode reagir. Uma mulher só pode exagerar (…) Se vocês focarem no seu trabalho e não deixarem aquelas pessoas distraírem vocês, algum dia, quando vocês chegarem aonde estão indo, vocês vão olhar em volta e saberão – foi você, e as pessoas que te amam, que colocaram você lá. E esse será o melhor sentimento do mundo.” 

Das pequenas amantes de música às fangirls que administram fã clubes, muitas sonham em seguir uma carreira profissional no music business. Por isso convidamos seis mulheres excepcionais que nos contaram um pouco de sua jornada e deram conselhos para as que desejam seguir caminhos semelhantes.

Carol Pascoal
CEO e diretora da Trovoa Comunicação

“Trazer a sua essência em primeiro plano é parte fundamental. Fora isso, eu diria: quem vê feed, não vê o corre. Inclusive, priorize corre ao feed.”

Pode nos contar um pouco sobre você, sua profissão e como foi sua caminhada até ela? 

Eu sou jornalista de formação. Comecei a minha carreira no mercado da música, em 2009, como estagiária de música do Estadão, jornal em que me tornei repórter e em que iniciei as minhas conexões no meio. Foi nesse período, por exemplo, que entrevistei o Emicida e criamos uma proximidade profissional. Em seguida, passei pela redação da Veja São Paulo, também como repórter de música. No ano de 2014, fui morar em Nova York e fiz alguns cursos nos Estados Unidos, entre eles: RP para entretenimento (NYU), Music Business (Berklee) e Digital Marketing (Harvard). De lá, atuei como correspondente e pude entrevistar artistas como Lenny Kravitz e Paul McCartney. Voltando para o Brasil, passei a atuar em agência com assessoria de imprensa e PR. Em 2018, fundei a Trovoa Comunicação, que surgiu da vontade de criar uma empresa diferente das que já atuavam no mercado. Hoje, com seis anos de existência, consolidamos o nosso nome no mercado. Desenvolvemos métodos que se tornaram referência. Temos duas frentes de atração: Turnê e Festivais, que atende os eventos da 30e, como as turnês da Ivete Sangalo, da Ludmilla, do Jão, do Sepultura e do Natiruts; e Artistas e Projetos Especiais, responsável pela assessoria de imprensa e PR do Emicida (e toda LAB Fantasma), Liniker, Racionais e Mano Brown, Fresno, Coala Festival, entre outros.

Qual foi o momento de destaque da sua carreira até então para você?

Tive muitas vivências que guardo com muito carinho, como ter entrevistado o Paul McCartney e ter liderado o PR do Lollapalooza Brasil em 2022 e 2023. Mas vou apontar dois momentos que enxergo como os mais importantes. 

O primeiro deles foi ter feito o plano de assessoria e PR de “AmarElo”, do Emicida. É um trabalho que mudou a vida de muitas pessoas e a minha também. Com toda a genialidade e generosidade do Emicida, conseguimos construir e seguir um plano muito bonito e efetivo. Foi com “AmarElo” que eu realmente entendi o poder de uma estratégia bem amarrada.

O segundo momento foi em 2023, quando anunciamos que a 30e se tornou sócia da Trovoa. Mais uma vez preciso falar de generosidade, porque os gestores da 30e tiveram um olhar muito bonito pro serviço prestado pela Trovoa, enxergando um valor que, muitas vezes, não é dado pra agências de PR. Essa parceria é um super combustível pra mim, tem me desafiado e atiçado a minha criatividade, além de ter dado uma estabilidade para empresa.

Do que você mais gosta no seu trabalho? 

Eu gosto de contar histórias. Sempre que inicio um plano, eu me pergunto qual é a história que nós e os clientes queremos contar. A partir daí, entra a parte da criação, que eu amo. Ter ideias de como fazer uma comunicação é muito legal. Como sou diretora e CEO da Trovoa, as minhas atividades de empreendedora acabam tomando parte considerável do meu tempo. Mas quando estou em um show em que estamos trabalhando ou dou play em um som que estamos lançando, lembro o porquê amo tanto o que fazemos. Criamos lembranças e experiências que vão acompanhar o público pelo resto da vida. Isso é muito especial.

Ser mulher dentro da indústria musical é um desafio e mesmo nova, você conseguiu ser dona do próprio negócio e montar um time majoritariamente feminino. Essa já era uma visão que você tinha ao idealizar a agência? 

Desde o começo, eu desejei criar uma agência que fosse diferente das que já atuavam no mercado. Eu tinha dificuldade de definir o que eu queria para a Trovoa, mas eu sabia exatamente o que eu não queria. Isso foi importante no processo de empreender. Sempre pensamos na importância de ter uma equipe diversa, é algo que norteia a seleção do nosso time. Mas tenho certeza que a construção feita até aqui só foi possível (e mais leve) por ter mulheres muito maravilhosas trabalhando comigo.

Você já sentiu em algum momento que seu trabalho foi diminuído por ser mulher? Caso sim, como enfrentou isso? 

Toda mulher precisa trabalhar dobrado para atingir um nível de respeito e de admiração no nosso meio. Acho que hoje, com 15 anos de carreira, estou em uma posição em que sofro menos isso, mas vira e mexe preciso me posicionar e mostrar que estou ali porque sou realmente boa no que faço. Sou uma grande entusiasta da nova geração de gestores do entretenimento ao vivo, porque enxergo mais possibilidades e abertura para brilhar, criar e fazer o trabalho pelo qual fui contratada para fazer. O trabalho ao lado do Coala Festival e da 30e são bons exemplos disso! 

Certa vez, em uma gestão de crise de um grande evento, fui chamada por um empresário old school de “garota” de uma forma bastante pejorativa. É um tipo de gestor que pega os meus 15 anos de trajetória e diminui a um nada em um milésimo de segundo. Isso desgasta e desestabiliza a gente. Não existe mais espaço para isso no mercado.

Qual mulher te inspira profissionalmente e porquê? 

Vou falar de três mulheres que trabalham muito nos bastidores da música e que são peças fundamentais no nosso mercado. 

– Raissa Fumagalli é uma das principais profissionais do nosso meio. Ela é gerente de produção executiva e artístico da Laboratório Fantasma e também tem alguns trabalhos com outros artistas (ela é diretora criativa do show mais recente da Gloria Groove, por exemplo). A Raissa tem um conhecimento técnico gigantesco e diverso. Ela vai dos direitos autorais a montagem de um palco, a concepção de um show, de um disco, documentário… enfim, é daquelas pessoas que fazem a coisa acontecer.

– Semayat Oliveira é uma das jornalistas mais brilhantes do país. Ela é diretora de conteúdo do “Nós, mulheres da periferia”. Nós nos conhecemos nas gravações do podcast Mano a Mano (eu, como assessora do Mano Brown; e ela jornalista responsável por toda pesquisa e por auxiliar na condução das entrevistas). Eu sempre amei trabalhar em redação. Quando vejo o trabalho de texto e de apuração da Semayat, lembro o porquê eu me apaixonei pelo jornalismo lá atrás. 

– Fernanda Pereira é sócia e head de operações do Coala Festival. Nós trabalhamos juntas desde 2017, que foi a minha primeira edição como PR do festival. O Coala é um dos festivais mais legais do Brasil, com uma curadoria inteligente, querido pelo público e pelos artistas. A Fernanda desenvolveu um processo próprio na maneira de levantar um evento como aquele. Sem deslumbre, muito papo e muita escuta, ela é um alicerce do festival. É um nome muito legal para acompanhar.

Que conselho você daria para jovens mulheres que gostariam de seguir o seu caminho?

O mais importante é ser fiel ao que você acredita. Parece papo de coach, eu sei… mas o mundo da música coloca muitos estímulos ao nosso redor, é muito sedutor e é muito fácil você se perder. Então trazer a sua essência em primeiro plano é parte fundamental. Fora isso, eu diria: quem vê feed, não vê o corre. Inclusive, priorize corre ao feed.


Catharina Schoene
Gerente de Projetos da HQ Music

“Saber aonde você quer chegar é imprescindível para descobrir o melhor caminho.”

Pode nos contar um pouco sobre você, sua profissão e como foi sua caminhada até ela?

Meu nome é Catharina Schoene, tenho 28 anos e sou gerente de projetos na HQ Music desde setembro de 2022. Meu trabalho é muito dinâmico, lido diariamente com pessoas de diversos lugares do mundo e acho um desafio muito bacana fazer parte da construção de estratégias para difundir o trabalho de artistas dos mais diferentes gêneros no Brasil.

Sempre fui muito apaixonada por música e tinha o sonho de ser jornalista (inclusive mantive alguns blogs sobre o assunto na adolescência), mas acabei fazendo faculdade de design gráfico e trabalhando com isso em agências de publicidade, onde me conectava muito profundamente com o pensamento estratégico por trás das campanhas. O meio de agências não era exatamente o que eu buscava para a minha carreira e, durante um momento de mudança na minha vida, surgiu o convite para me juntar à HQ Music, pois já havia feito alguns projetos com a Marcella Micelli, fundadora da empresa, minha amiga há muitos anos e que sabia da minha vontade em fazer essa transição para o mercado de música.

Como mulher, qual o maior desafio que já enfrentou no seu trabalho?

Infelizmente existe uma percepção social de que mulheres precisam se portar de uma forma sempre conciliatória, quando isso é somente um traço de personalidade de algumas pessoas. Sinto que qualquer postura mais direta vinda de uma mulher é vista com maus olhos, mesmo mantendo a educação e o respeito em todos os momentos.

Qual foi o momento de destaque da sua carreira até então para você?

No início de 2023, a HQ realizou uma ação especial de lançamento do álbum Phosphorescent, da Gabrielle Aplin, em São Paulo, que contou com uma exposição de fotografia e um show da artista. Fazer parte da construção dessa ação, que foi inclusive maior do que a exposição realizada em Londres, e ver a evolução do projeto, além da reação da artista, do público e de todos os envolvidos foi muito gratificante.

Do que você mais gosta no seu trabalho?

É sempre muito legal ter a oportunidade de trabalhar com artistas dos quais sou fã, mas a parte que mais gosto é de construir uma estratégia para artistas em desenvolvimento no Brasil e ver os resultados acontecendo, fazer parte do crescimento dessa carreira.

Apesar de estar inserida na área de comunicação com design gráfico inicialmente, o lado do marketing com planejamento e estratégias é bem diferente. Você sente que seus trabalhos se difundiram? E como é relacionar sua paixão pela música com um trabalho que por vezes pode ser muito intenso?

Sinto que minha bagagem de criação só somou às ao meu trabalho como gerente de projetos. Sempre fui muito planejadora (em todas as áreas da minha vida!), então naturalmente busquei um rumo para a minha carreira com mais foco nisso. A música sempre foi minha maior paixão e, por mais intenso que o trabalho possa ser em alguns momentos, é muito gratificante ver a repercussão do projeto e saber que você foi parte desse sucesso!

Você já sentiu em algum momento que seu trabalho foi diminuído por ser mulher? Caso sim, como enfrentou isso?

Sinto que mulheres jovens muitas vezes são julgadas como inexperientes no meio corporativo, mesmo tendo 11 anos de carreira em comunicação, como é o meu caso. A melhor maneira para lidar com isso, na minha opinião, é sempre entregar o melhor trabalho possível e fazer questão de que o seu crédito seja reconhecido. Ter um time diverso também ajuda muito a diminuir esse tipo de pré-julgamento.

⁠Qual mulher te inspira profissionalmente e porquê?

Felizmente tenho a sorte de trabalhar junto com a Marcella Micelli e a Danielle Lage, as duas mulheres que estão à frente da HQ Music. Elas têm uma visão de negócios incrível, que cria um ambiente muito empoderador, e aprendo muito com ambas todos os dias. Também fico feliz em estar em um lugar que prioriza ter um time composto em sua grande maioria por mulheres!

Que conselho você daria pra jovens mulheres que gostariam de seguir o seu caminho?

Sejam curiosas, persistentes, se cerquem de pessoas inspiradoras e dialoguem sobre expectativas, propósito e vida real. Saber aonde você quer chegar é imprescindível para descobrir o melhor caminho!


Bárbara Sousa 
Social Media na Agencia California

“Foca no que te permite ser feliz hoje, porque nada é permanente.”

Pode nos contar um pouco sobre você, sua profissão e como foi sua caminhada até ela?

Eu costumo brincar que tenho uma mania de transformar hobbies em profissão por me dedicar demais a tudo que me proponho hahah… Eu levo minhas paixões a sério e a minha relação com a música me trouxe quase que naturalmente ao marketing musical! Hoje em dia eu sou Social Media da IZA, mas já trabalhei com outros artistas incríveis e, antes disso, sou fã e praticante de grade de shows, enquanto ainda aguento. 

Como mulher, qual o maior desafio que já enfrentou no seu trabalho?

Pessoalmente, acredito que a comunicação é um ambiente privilegiado nesse sentido de desafios por ser mulher, hoje faço parte de uma equipe bem feminina e diversa. Ao mesmo tempo, trabalhar com comunicação dentro da indústria da música é desafiador, porque exige esse um olhar sensível e atento pra recorte de gênero, raça, etc. 

 Qual foi o momento de destaque da sua carreira até então para você?

Acompanhar a repercussão e os desdobramentos da estratégias de lançamento do álbum da IZA (AFRODHIT), tendo a visão de todo o processo por trás e a sensação de fazer parte de algo grandioso foi demais, além de um verdadeiro aprendizado. Nós que amamos música estamos sempre de olho nos lançamentos, né? Hoje em dia eu posso acompanhar isso por paixão à música, mas com certeza faço com um olhar mais estratégico e analítico.

Do que você mais gosta no seu trabalho?

Com certeza -tentar- fazer pelos fãs da IZA o que eu gostaria que fosse feito por mim enquanto fã. Pode ser uma visão enviesada de adm de fã-clube (hahah), mas acredito muito no potencial de crescimento de produtos – e isso cabe pra marcas, artistas,  qualquer coisa que tenha público – baseado em uma comunidade forte que acredita naquilo e se sente parte de algo maior. 

Sua história na área da comunicação começou por puro amor à música com fã clube e uma página dedicada a festivais. Enquanto isso, do outro lado temos a Babi que administra uma loja de bijuterias artesanais e a Babi que advoga. Como foi ser reconhecida pelo seu trabalho — ainda apenas como fangirl — e estar hoje exercendo profissionalmente o cargo social media na área? Você se imaginava onde está hoje enquanto exercia seus outros trabalhos? 

Eu nunca me imaginei, mas sei que o fato de manter a mente aberta às possibilidades me trouxe até aqui. Durante a faculdade de Direito, eu fiz aulas no curso de História, Filosofia e até Engenharia de Energia (juro!), porque a Universidade me proporcionou essa visão interdisciplinar de aprendizado. Eu posso dizer que, independente do que eu estava fazendo como profissional, eu sempre me imaginava longe – e isso me fazia sempre querer mais e buscar me aprimorar, fazer cursos, buscar conexões e visões diferentes, etc.  Eu só sou social media profissionalmente agora, porque enquanto estava focando na loja, fiz cursos na área de marketing. Em paralelo, isso me ajudou na advocacia, no fã-clube e na página-de-festivais-abandonado-por-falta-de-tempo, porque eu busquei aplicar meus aprendizados de forma interseccional.

Você já sentiu em algum momento que seu trabalho foi diminuído por ser mulher? Caso sim, como enfrentou isso?

A transição entre algo que eu fazia por amor e a profissão foi tão natural que o processo de me estabelecer como alguém que tem voz e autoridade foi muito mais fácil, porque a Bárbara do passado já tinha passado por diversas situações – principalmente na advocacia. O enfrentamento tem muito do processo de perceber só depois (infelizmente) que passou por algo que não foi só desagradável, mas também machista, né? Então reconhecer isso e não aceitar passar por uma situação semelhante de novo é fundamental.

Que conselho você daria para jovens mulheres que gostariam de seguir o seu caminho?

Já faz quase um ano que eu sou Social Media, mas só agora eu reconheço que fiz uma transição de carreira. Meu conselho é voltado principalmente para jovens mulheres que estão nesse processo de escolher qual caminho seguir profissionalmente: foca no que te permite ser feliz hoje, porque nada é permanente. Estando feliz e determinada, seus caminhos vão se abrir naturalmente, porque as pessoas à sua volta vão reconhecer a sua dedicação.


Letícia Hidaka
Analista de Conteúdo na Opus Entretenimento

“Gosto muito da realização do dia, de ver os fãs felizes conhecendo seus ídolos (…) É a realização de quem sempre esteve do lado de lá.”

Pode nos contar um pouco sobre você, sua profissão e como foi sua caminhada até ela?

Meu nome é Letícia, tenho 25 anos, e trabalho com a agenda de shows da Vibra São Paulo.

Minha carreira começou há pouco tempo. Em 2019 fiz um curso de showbusiness porque desde adolescente eu sabia que queria trabalhar com isso, só não tinha ideia do que eu precisava fazer para estar lá. O curso me abriu várias portas, e foi a partir dele que eu consegui conhecer vários profissionais e fazer outros trabalhos como Rock in Rio e CCXP. Porém, logo depois veio a pandemia. Perdi a esperança, me formei em marketing e estava pronta para trabalhar em outra área. Até a empresa que eu estou hoje me chamar. Hoje eu trabalho cuidando da agenda desta casa de shows incríveis e referência em São Paulo, e, coincidentemente, a primeira casa de shows que eu fui como cliente!

Como mulher, qual o maior desafio que já enfrentou no seu trabalho?

Acho que eu tive sorte nesse tempo. Claro que enfrentei vários desafios, já lidei com alguns produtores que queriam “crescer” por serem homens. Mas eu sempre tive parceiros incríveis de trabalho, que sempre abriram portas para mim e me respeitaram, mesmo sendo tão nova no mercado.

Qual foi o momento de destaque da sua carreira até então para você?

Meu primeiro show que eu fechei sozinha na casa. Foi um show grande e super importante para a casa e para o público. Me confiaram um trabalho muito grande e de muita responsabilidade e foi incrível! E acho que outro foi no Rock In Rio que eu trabalhei com a assessoria de imprensa, e era realmente uma experiência apenas, mas conheci tanta gente incrível, consegui trabalhar com várias pessoas que eu já admirava, foi uma baita experiência.

Do que você mais gosta no seu trabalho?

Sou bem suspeita para falar do meu trabalho, eu sempre sonhei trabalhar com o showbusiness. Eu gosto muito da realização do dia, de ver os fãs felizes conhecendo seus ídolos, vendo eles de pertinho, tendo aquele momento de descanso da rotina no seu show favorito. É a realização de quem sempre esteve do lado de lá, então saber que eu tive um pouco de responsabilidade na realização de sonhos de outras pessoas, é a parte mais gostosa do meu trabalho. 

Pensando na jovem Letícia que amava ir aos shows dos seus artistas favoritos, qual é a sensação de se ver trabalhando dentro do showbusiness hoje em dia? Tem algo dela que você ainda traz consigo?

Eu levo 100% da jovem Letícia comigo. Desde meus 13 anos eu ia em shows, sonhava com aquele momento e desde o primeiro show que eu fui, eu pensava em trabalhar no showbusiness. Então hoje, sempre que eu faço alguma coisa, eu penso no quanto aquela Letícia queria estar nesse lugar, penso também nela como fã e tudo o que eu gostaria que fosse feito. Tenho muito zelo no meu trabalho porque eu sei que estamos trabalhando em realizar sonhos. 

Você já sentiu em algum momento que seu trabalho foi diminuído por ser mulher? Caso sim, como enfrentou isso?

Para ser sincera, senti uma vez só, e apenas não abaixei minha cabeça. Segui da maneira que acreditava ser correta, e insisti. Acho que essa é a parte importante, defender o seu lado. Se aliar a pessoas que acreditam nisso também. 

Que conselho você daria para jovens mulheres que gostariam de seguir o seu caminho?

Tenha muita persistência. O mercado é bem difícil, exige muito da gente, física e mentalmente. Mas é recompensador ver tudo tomar forma. Façam contatos, sejam um pouco cara de pau, vão atrás da experiência, não tenham medo de errar e se mostrar.


Iris Alves
Fotógrafa

“É bem clichê, mas não desista, não pare de tentar, em algum momento vai dar certo (…) tudo tem seu tempo certo para acontecer, é nisso que acredito.”

Pode nos contar um pouco sobre você, sua profissão e como foi sua caminhada até ela?

Oi kkk bom, meu nome é Iris Alves (por favor, não é Isis).

Como a fotografia entrou na minha vida? Eu precisava de nota em matemática e o professor ia dar pontos extras para quem fizesse algum curso nas férias e escolhi fotografia.

Quando adolescente eu nunca fui de ir em festas ou baladinhas, meu rolê desde sempre foi ir em shows e levava a minha câmera junto. Tinha o costume de postar as fotos do show em todas as redes sociais possíveis, então os produtores, fãs e bandas começaram a respostar as minhas fotos e foi basicamente isso, as coisas foram acontecendo.

Como mulher, qual o maior desafio que já enfrentou no seu trabalho?

Trabalhei no sertanejo. Não sei como está hoje em dia, mas na época era um lugar machista (já ouvi pessoas perguntando se eu era a marmita da equipe). Por sorte entrei em uma equipe que sempre me respeitou e me protegeu quando alguém de fora tentava algo. 

Qual foi o momento de destaque da sua carreira até então para você?

Não sei, para alguns pode ser quantidade de likes ou quando uma foto saiu em tal veículo ou quando um artista compartilhou as minhas fotos. Mas eu sou emocionada com a fotografia de show então para mim os pontos altos são quando consigo fotografar meus artistas favoritos. 

Do que você mais gosta no seu trabalho?

Definitivamente é fotografar quem eu gosto e se eles gostam das fotos deixa tudo mais legal ainda. Tenho uma pasta com prints das vezes que eles repostaram ou fizeram algum comentário sobre meu trabalho.

Além de fotografar grandes nomes que admira, você já teve a experiência de fazer o seu trabalho acompanhando o crescimento de outros artistas, como o Jão por exemplo. Como é pra você refletir sobre seu caminho no meio da fotografia como mulher e ver o tanto que sua própria carreira cresceu desde então? 

O mais legal de acompanhar um artista por muito tempo é ver a evolução tanto do artista quanto das minhas fotos. 

Eu comecei fotografando os artistas que eu gosto. Comprava ingresso, levava a câmera e postava as fotos. Alguns desses artistas pude acompanhar a carreira mais de perto e participar de alguns projetos, tem foto minha como capa do cantor que eu mais ouvia na adolescência.

Com o passar do tempo me tornei uma pessoa emocionada. Chorei no show do Jão no Allianz. É muito bonito fazer parte dessa história, às vezes de longe, às vezes mais perto. Estive nos primeiros shows como fã que compra ingresso e chega cedo pra pegar lugar na frente, sabe? Até hoje é assim, sigo fã mas não preciso mais comprar o ingresso (haha). 

Fico muito feliz que de alguma forma faço parte (pode ser uma parte pequenininha) mas a minha fotografia está ali na história de alguns dos meus artistas favoritos e para mim isso vale muito. 

Você já sentiu em algum momento que seu trabalho foi diminuído por ser mulher? Caso sim, como enfrentou isso?

Já sim, me indicaram para trabalhar com um cantor e não entrei para gig por ser mulher. Continuei trabalhando e outras oportunidades surgiram.

Que conselho você daria para jovens mulheres que gostariam de seguir o seu caminho?

É bem clichê, mas não desista, não pare de tentar, em algum momento vai dar certo. Às vezes a gente acha que ninguém tá vendo nosso trabalho mas tem sempre alguém de olho e a oportunidade vai surgir, vai se preparando para quando isso acontecer. 

Já pensei em desistir muitas vezes e me revoltei por algo não acontecer do jeito que eu imaginei, mas hoje olho para trás e vejo que naquele momento eu não estava pronta para aquele job, que se eu tivesse feito o trabalho talvez não entregaria o resultado certo e poderia estragar oportunidades futuras. Então tudo tem seu tempo certo para acontecer, é nisso que acredito.


Simone Catto
Assessora de Imprensa na Catto Comunicação

“Não há argumentos diante de um trabalho bem feito e bons resultados.”

Pode nos contar um pouco sobre você, sua profissão e como foi sua caminhada até ela?

Eu comecei a trabalhar com entretenimento na adolescência e meu primeiro trabalho foi como rádio-escuta na gravadora Polygram. Lá eu conheci a pessoa que algum tempo depois, quando eu estudava publicidade, me ofereceu a primeira oportunidade em assessoria de imprensa, um estágio na Warner Music. Foi um período de muito aprendizado e pude aprender na prática como funciona a assessoria de imprensa, o processo de lançamento de um novo álbum ou artista e fiz muitos contatos com profissionais da área. Além da Warner trabalhei na assessoria das gravadoras Continental, Roadrunner, Abril Music e EMI Music.

No início dos anos 2000, junto com minha irmã Denise, montamos a Catto Comunicação e desde então prestamos serviços de assessoria de imprensa e produção para clientes do setor de entretenimento, artistas de vários segmentos, produtoras de shows, grandes festivais e espetáculos de dança e teatro.

Como mulher, qual o maior desafio que já enfrentou no seu trabalho? 

Quando assumi pela primeira vez a gerência de imprensa de uma gravadora, muitos colegas deixaram claro que não acreditavam em mim. Sem dar atenção aos comentários, me concentrei nos meus objetivos, trabalhei meus pontos fracos e com foco, dedicação e um bom trabalho conquistei meu espaço.

Qual foi o momento de destaque da sua carreira até então para você

Foram muitos momentos… a primeira vez que assumi um departamento de assessoria foi muito desafiador, mas também muito gratificante. Durante minha carreira tive a oportunidade de trabalhar com artistas que admiro muito, por exemplo, no lançamento dos álbuns Aqui, Ali, Em Qualquer Lugar e Balacobaco, de Rita Lee, turnês (Aerosmith, Guns n’Roses, etc) e festivais incríveis (São Paulo Trip, Rockfest, Monsters of Rock, Planeta Terra e SWU). E, mais recentemente, aprendi muito participando da divulgação de espetáculos de dança e de grandes exposições.

Do que você mais gosta no seu trabalho? 

Eu gosto bastante de todo processo, do planejamento, pensar em sugestões de pautas, descobrir novos canais de divulgação, o relacionamento com as pessoas da área, etc. É muito bacana quando num papo informal com um jornalista surge uma ideia de pauta e conseguimos colocar em prática. E mesmo com todas as transformações da era digital eu ainda adoro o impresso. A matéria de capa de um jornal, uma linda  matéria em uma revista me deixam super feliz!

São mais de 20 anos de carreira já na comunicação. Você sente alguma diferença entre o tratamento que recebia como uma profissional feminina comparando os anos 2000 com atualmente? 

As coisas têm mudado mas, não só profissionalmente, ainda esbarramos em situações desagradáveis. Nessas horas eu tento não deixar isso tirar o meu foco e seguir em frente.

Você já sentiu em algum momento que seu trabalho foi diminuído por ser mulher? Caso sim, como enfrentou isso? 

Sim, várias vezes, e nessas situações sempre me concentrei no trabalho e entreguei o melhor resultado possível. Não há argumentos diante de um trabalho bem feito e bons resultados.

Que conselho você daria para jovens mulheres que gostariam de seguir o seu caminho?

Trabalhar com entretenimento não é diversão, demanda muita entrega e dedicação. E, como em todas as áreas, é importante se manter atualizado, estudar e consumir o máximo de informações disponíveis sobre o mercado.


O We In The Crowd foi fundado por quatro mulheres. Quatro fãs com uma visão que em pouquíssimo tempo se tornou algo muito maior.

Nosso conselho é que você siga seus sonhos, faça o que te dá vontade, e não ouça às críticas sem fundamentos. Pegue as críticas construtivas e as torne em combustível para ser cada vez melhor. E lembre-se que: se estão tentando criar obstáculos pra você, é porque está dando certo.

Feliz Dia nosso! <3

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