Entrevista: Entre redescobertas e superações, Sonja fala sobre seu novo álbum “Rainha de Copas”
A cantora e compositora carioca Sonja lançará o seu álbum Rainha de Copas na próxima sexta-feira (25), e nós da We In The Crowd batemos um papo com ela sobre seus processos criativos. Influenciada pelos sons do blues e do soul, a cantora abre seu coração com honestidade e orgulho em suas composições.
O álbum “Rainha de Copas” conta com a presença de suas histórias, tanto com as de reconexão e as de superação. Como você descreveria o seu processo criativo em apenas uma palavra?
Sentimento
Houve algo em particular que te inspirou enquanto escrevia seu último—e romântico single My Baby? Se sim, pode contar um pouquinho sobre isso?
Não algo, mas alguém (haha)
A música é inspirada no meu relacionamento com a minha namorada. Um relacionamento saudável depois de tantos relacionamentos conturbados, finalmente. Um relacionamento em que eu aprendo muito, tenho espaço pra ensinar também, onde sou ouvida e tratada bem.. Esse relacionamento veio como um descanso, depois de tanto dar de cara na parede. Pra nós duas. E sinto que é um relacionamento muito inspirador. E por conta dessa paz que ele me traz foi que decidi colocar My Baby como última faixa do álbum, que já é muito denso e fala sobre coisas muito difíceis. Como Rainha de Copas fala sobre passar vivo por todo caos, achei bonito fechar com essa música que fala de amor: próprio e também romântico, afinal, não aceitar mais migalhas e não aceitar apenas o mínimo é um grande movimento de respeito e amor por si. Aprender a se relacionar, conversar, trocar (ouvir e ser ouvida), tudo isso fala de respeito – e é o que esse relacionamento me proporciona e é sobre o que fala My Baby.
Qual verso de alguma das 13 músicas do novo disco pode ser considerado o seu favorito?
Sem dúvida alguma, “Vai assim mesmo/ Vai com medo/ Mas vai”, de Calma. Pego esse verso pela mão e caminho junto dele, sempre.
Quando você iniciou o processo de suas composições, como descobriu que essa era realmente a sua paixão?
Eu não lembro de ter existido um momento específico na minha vida em que eu pensei: “ah, essa é minha paixão”. O que eu sei é que eu sempre escrevi, sempre compus, tinha diários, blog, escrevia histórias, poesias, poemas, na escola eu adoraaaaaaaaaava fazer redações, então sinto como se já tivesse nascido comigo. E aí, nesse encontro com a música, o fato de poder transformar as escritas em música, foi como uma extensão disso que eu já gostava de fazer. União de uma paixão com a outra!
O álbum contém 10 faixas inéditas, e já sabemos que uma das suas queridinhas é Mudanças! Dentre as suas favoritas, qual música você escolheria para mostrar para a sua versão de 10 anos atrás e porquê?
“Fé”, com certeza. Eu acho que há 10 anos atrás eu não entenderia tanto ela, mas iria com certeza me dar esperança e força pra atravessar os momentos difíceis. Acho que ela viria me dizendo:
“Você escolheu esse caminho, ok. Assuma a responsabilidade pelas tuas escolhas. Mas saiba também que a qualquer momento que você quiser, ainda pode escolher o movimento oposto. Se REALMENTE quiser sair desse lugar aí que você se enfiou, você vai conseguir.”
Teria me poupado muito sofrimento ou teria me emburacado mais ainda. É por isso que não podemos prever com absoluta certeza, nosso futuro. É também por isso que tudo acontece em seu devido momento.
Podemos ver que uma de suas inspirações para esse projeto foram as cartas de Tarot. Qual foi a principal influência das cartas em relação ao projeto?
A ideia de colocar o trabalho em cima do Tarot, surgiu quando entendi que todas as músicas que eu tinha prontas pra compor esse álbum, eram baseadas em experiências vividas, que foram mostradas à mim em um jogo com uma cigana. Pensei:
“Vou contar essa história, com essas músicas, baseada nessa tiragem, que fala sobre essa minha jornada e escolhas que fiz”.
Nessa tiragem de Tarot, eu tinha dois caminhos possíveis e, ao pensar na produção do álbum, eu já tinha não só escolhido esse caminho, mas também, estava vivendo-o. Achei interessante também essa mensagem de podermos, a todo momento, modificar nosso destino com nossas escolhas.
Mas para que essa associação música-carta de tarot pudesse ser feita de forma correta, pedi ajuda à Giovanna Marques, que é minha amiga taróloga, porque na época que tive a idéia, não sabia nada sobre Tarot. Sabia sobre a carta da Rainha de Copas e muito pouco sobre algumas outras. E aí, ao longo da produção desse álbum, o Tarot me veio. Patricia Evans, minha professora de canto que não sabia NADA sobre o fato d´eu estar produzindo um álbum baseado em Tarot, me mandou uma mensagem me perguntando se eu queria aprender a jogar, que sentiu de me perguntar isso. Nada é por acaso. Não acredito em coincidências, ainda mais quando o assunto é esse álbum. Ele (o tarot) escolheu vir e sinto que nos encontramos no momento certo, onde seria interessante para as duas partes, esse estudo. Mas ainda sou muito leiga. Sei do álbum – o Tarot em si, estou no início da aprendizagem. Mas antes hoje do que nunca.
Sabemos que há altos e baixos na indústria musical, principalmente na questão do impacto do bloqueio criativo. Quais foram seus principais desafios de composição no começo e como eles mudaram ao longo do tempo?
Não tive desafios na composição das músicas, pois 99% delas já estavam prontas (letra e melodia). Elas já existiam. O grande desafio, na verdade, foi do Marcão (Marco Lacerda, produtor musical do disco e diretor musical do trabalho) e da Jeyce Valente (uma amiga que me ajudou nas letras) quando pensei em trazer as composições que antes eram em inglês, para o português, e ainda do Ygor Helbourn (coprodutor musical do álbum) e do Marcão no processo de aprenderem as músicas para começarmos a criar os moldes, possíveis caminhos e arranjos para cada música. Posso dizer que tudo fluiu muito bem. Todos sabem muito de música e me conhecem muito bem, já trabalham comigo há muito tempo. Acredito que isso tenha tornado tudo mais fluido.
Mas o bloqueio criativo existe, é uma realidade. Volta e meia passo por isso nos meus processos íntimos de composição. Respeito. Respeito o tempo da música. As vezes ela não quer vir, tudo bem. As vezes não é o tempo dela, ou o meu. Tento entender.
Em relação à uma futura turnê, qual faixa do Rainha de Copas você está mais ansiosa para cantar ao vivo?
O medley, que é a junção de 3 faixas do álbum (Entregue/Triste/Louca) que conversam entre si, contando a história do álbum. Me arrepio toda vez que trabalhamos ela no ensaio. Ela tem uma força diferente.
Quais são suas maiores inspirações musicais quando se trata da transição da sua própria voz como artista?
Me inspiro em artistas que botam sentimento e verdade na voz. Gosto de vozes libertas, vozes grandes, sinceras: Elis Regina, Aretha Franklin, Etta James, Ricky Vallen, Ricardo Werther, Gal Costa, Bessie Smith, Janis Joplin, Liniker, Elza Soares. Vozes com atitude, sabe? Assim, bem Rita Lee.
Para finalizar, se você pudesse contar algo para a Sonja de alguns anos atrás que um dia sonhava em lançar um álbum repleto de honestidade e redescobertas, o que você diria?
Diria pra ela pegar o medo, dar a mão pra ele e ir fazer aquilo que o coração enche o saco pra fazer, porque ninguém sabe o que precisamos fazer, melhor que nós mesmos. Só nós sabemos. Então pega o medo e vai com ele mesmo, fazer o que você sente que é sua vontade fazer. E se você sentir que o medo ainda é maior, calma, um dia você vai entender que ele tem o tamanho que você dá pra ele. Então, relaxa, tudo em seu tempo.
Não deixe de ouvir Rainha de Copas, disponível no dia 25 de agosto em todas as plataformas digitais!